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No PSD, há um conhecido e longo historial entre os seus líderes: a maior parte, teve razão antes do tempo.
Pedro Santana Lopes teve razão sobre Sócrates e sobre o lobby da energia e da banca antes do tempo, Manuela Ferreira Leite teve razão sobre a falência financeira do Estado antes do tempo e Pedro Passos Coelho teve razão sobre as incongruências da geringonça antes do tempo. Todos, depois de abandonarem responsabilidades como primeiros-ministros ou líderes da oposição, viram as suas posições confirmadas por três factores: o tempo político, o ciclo económico e os erros das governações do Partido Socialista.
Assim, o PSD, como força política nacional, foi sucessivamente debilitado por não dar tempo aos seus líderes para confirmarem a sua razão e a sua leitura, sendo que a maior parte deles, como vimos, estavam corretíssimos. Internamente, esta fraqueza, muitas vezes auto-imposta, foi algo que a liderança e a reeleição de Rui Rio veio felizmente mudar.
Hoje, o PSD é um partido mais forte por causa disso, mais impermeável à conjuntura, à pressão de uma comunicação social que sempre o preteriu e, também, mais próximo da verdadeira consciência do seu eleitorado. Quem prefere as bases às manchetes, sabe-o bem.
Rui Rio é, muitas vezes, criticado por não fazer oposição. Quando não é criticado por isso, é criticado pela oposição que faz. Quando não é criticado pela oposição que faz é criticado pelo tom que usou. Quando não é criticado pelo tom que usou é criticado pelo timing que escolheu. E se não for criticado por nada disto será, inevitavelmente, criticado por outra coisa qualquer. Se quisermos muito que uma carta diga algo que não diz basta, por exemplo, treslê-la. Como se treslê semanalmente que o partido dizer-se “de centro” significa que fará um Bloco Central.
Incrivelmente, o PSD é o partido que está com o PS, mas cujas propostas foram rejeitadas pelo PS. É o partido que ajuda o governo, mas que mais oposição fez à libertação de presos e ao funcionamento da Assembleia da República nos moldes escolhidos por Ferro Rodrigues. E é também o primeiro partido na história a defender que a banca não deve lucrar com uma pandemia e a ser criticado por isso. Tudo isto chega a ser absurdo.
Eu até compreendo que algumas pessoas, fartas de estar em casa, sintam falta da prática de desporto e escolham o tiro-ao-PSD como exercício. Mas acham mesmo que isso ajuda o país, a viver a sua maior crise como democracia, em alguma coisa?
Todos os bons líderes de oposição, em Portugal ou fora dele, souberam escolher um caminho: esperar responsavelmente. E não é isso que o PSD está, construtivamente, a fazer hoje? Com propostas, com críticas, com presença, com contributos, com honestidade. É isso que se exige de um líder partidário: estar pronto para o melhor e para o pior, para a governação e para a oposição, para uma crise e para o pós-crise. Acredito que é exatamente isto que o Partido Social Democrata se tem mostrado disposto a fazer. E, desta vez, não teremos só razão antes do tempo. Lutaremos por ela durante este tempo e decidiremos com ela depois deste tempo. O resto, como disse, é desporto. E não se entra em jogos numa pandemia. Não só por questões patrióticas, mas porque nunca é inteligente.
Artigo publicado no Observador.